Quando um casal se separa, diferentes emoções, com intensidade diversas, são inevitáveis de serem vividas. As formas de cada casal se relacionar são também elas variadas e com consequências diversas, aquando o momento de dizer adeus. São sobretudo as dinâmicas conjugais fusionais, onde não existe espaço para a individualidade de cada um dos seus membros, que pior prognóstico apresentam no que diz respeito ao processo de luto. Sim, luto! O conceito de “luto” embora esteja naturalmente associado ao processo posterior à morte de um ente querido, quando estamos perante o término de uma relação amorosa, a perda de um membro do nosso corpo após um acidente ou após uma cirurgia, ou mesmo quando perdemos um animal de estimação, estamos igualmente a falar de luto. Entenda-se desta forma que um processo de luto pode, e DEVE, acontecer perante qualquer perda que nós passemos ao longo da nossa vida e que é uma fase que necessita de tempo para ser ultrapassada. Mas será que os processos de luto decorrem todos da mesma forma? Que existe uma duração pré-determinada? Que sentimos todos o mesmo? E a resposta é não. A definição de “Processo de Luto” é bastante complexa na medida em que cada pessoa o vivencia de forma diferente, mediante as culturas, o meio em que está inserida e o próprio contexto da perda, o qual também influencia a forma como a pessoa vai encarar o luto. Contudo, podemos assinalar que de uma forma generalizada o luto reflete a frustração de uma necessidade básica de vinculação, que é manter a proximidade com uma figura significativa, com alguém importante na nossa vida, bem como o romper de um significado de segurança na vida. Trata-se de uma resposta mental a qualquer perda significativa, que normalmente é acompanhada por:
Pode-se entender, de uma forma geral, que o luto é um fenómeno natural que ocorre depois da perda de uma pessoa significativa, sendo um processo individual, que varia de pessoa para pessoa, de momento para momento e que envolve muitas dimensões do ser humano. O Processo de luto nas Relações Amorosas
Tendemos, enquanto sociedade industrializada, com forte apelo ao consumo, a nos relacionarmos com as pessoas da mesma forma como se relacionariam com objetos. A viver relacionamentos efémeros, descartáveis e consumíveis, muito devido ao individualismo e ao narcisismo. Portanto, supõe-se que a manifestação do luto concorde com tais tendências, sendo progressivamente negado, levando a que as pessoas acreditem que a dor deve ser escondida em público e só revelada no abrigo da privacidade. Cada vez mais as pessoas tendem a esconder os seus sentimentos, o que pode estar associado ao mecanismo de defesa de negação da perda ou à ausência de vínculos afetivos verdadeiros e consistentes entre as pessoas.No entanto, no luto, a dor que não é vivida na sua totalidade pode gerar sérias complicações para os relacionamentos futuros. Precisamos passar pela experiência de dor para que consigamos relacionarmos de forma inteira e total, novamente. É necessário repensar tudo o que se passou na relação, de forma a podermos entrar em contato profundo connosco próprios. É de facto imprescindível que se viva intensamente o luto, que se sofra, para reconhecer a perda do objeto e a partir daí poder iniciar o processo de elaboração. Sem esta experiência, a pessoa pode vir a apresentar manifestações depressivas, sentimentos de culpa, os quais podem torná-la incapaz de amar outra pessoa. De facto, de acordo com vários estudos realizados, verifica-se que no caso do luto provocado pela separação/divórcio, a dor pode até ser mais intensa, pois a outra pessoa continua viva. Esta situação faz com que, em simultâneo, a pessoa tenha de lutar para sobreviver ao caos psíquico provocado pela separação, assim como lidar com a ideia de que o outro também está a refazer a vida, o que pode provocar um sofrimento intenso. Estamos perante uma fase em que os conflitos se sucedem e a sensação de incapacidade para lidar com as emoções é, aqui, especialmente sensível. Os sentimentos de culpa, rancor, ressentimento, raiva, tristeza e medo estão à flor da pele mais do que nunca. É um período particularmente vulnerável a acidentes de diversa natureza porque os principais protagonistas estão cansados, vulneráveis, zangados, dormem pouco, alimentam-se e hidratam-se mal, sentem-se no limite das suas forças. O orgulho ou simplesmente a crença de que somos mais fortes se resolvermos todos os nossos problemas sozinhos faz com que tenhamos tantas vezes receio e pudor de pedir ajuda. O que fazer perante uma separação? Como encarar a perda?É necessário abrir mão do velho para aceitar o novo. Em todas as situações, as pessoas enfrentam a necessidade de abrir mão de um modo de vida, para poderem aceitar um outro. Se identificarmos a mudança como um ganho, a aceitação não será difícil, mas se é vista como uma perda far-se-á de tudo para resistir à mudança. Lidar com o caos interno e externo desta fase é particularmente difícil. Peça ajuda de um profissional se precisar de apoio para se arrumar por dentro. É essencial aprendermos a pôr de lado os preconceitos e os juízos de valor, porque as estratégias que adquirir num contexto terapêutico, vão fazer parte da sua mala de ferramentas a vida toda. Um divórcio é um acontecimento cada vez mais comum na vida das famílias e ninguém nasce ensinado para gerir emoções, nem para viver uma relação conjugal com alguém, pelo que também ninguém sabe como gerir uma separação de forma funcional e positiva para todos os envolvidos. Recorrer a ajuda profissional pode ser essencial para adquirir ou reforçar competências pessoais que sirvam de apoio ao momento de transição que uma separação implica e a todas as mudanças que esse evento acarreta na vida dos envolvidos. Todos nós temos o direito de viver relacionamentos felizes, correspondidos e com respeito, carinho, admiração e afeto.
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