O (Difícil) Processo de separação dos pais Após a leitura do artigo - A Ansiedade Infantil - O meu filho está sempre preocupado. Será normal? (Parte II). Podemos concluir que a ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão e angústia, caracterizado por tensão ou desconforto, derivado da antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. O facto da infância e da adolescência serem períodos caracterizados por grandes e impactantes mudanças físicas e psicológicas, torna natural que as crianças e jovens experimentem diferentes níveis de stress face a todos os novos desafios que estas novas mudanças acarretam. No entanto, algumas destas crianças e jovens não são capazes de atingir um ajustamento psicossocial saudável, podendo apresentar diferentes perturbações ou sintomatologias, como a ansiedade, que podem influenciar o seu desenvolvimento e funcionamento nos vários contextos onde se encontram inseridas, nomeadamente familiar, escolar e social. Para a maioria das crianças e dos adolescentes, a ansiedade é uma experiência comum, funcional e transitóriaAtravés do qual o nosso organismo se adapta normalmente às diversas situações. No entanto, esta ansiedade pode aumentar de intensidade e tornar-se, muitas vezes, exagerada ou desproporcional em relação ao estímulo, interferindo na qualidade de vida ou desempenho diário da criança ou jovem. No que diz respeito à frequência das perturbações ansiosas nestas faixas etárias, o Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS) abrange aproximadamente metade dos casos ansiedade, revelando ser a manifestação ansiosa mais frequente. De acordo com a literatura, o transtorno de ansiedade de separação é caraterizado por uma ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos pais ou outros cuidadores, que persiste, no mínimo, por quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança ou jovem. Quando a criança percebe que os seus pais têm de se ir embora, são comuns algumas manifestações físicas, tais como dôr abdominal, dôr de cabeça, náuseas e vómitos. Sintomas como tonturas, palpitações e sensação de desmaio são mais comuns em crianças um pouco maiores. É certo que o desenvolvimento infantil prevê etapas em que é expectável que a criança manifeste ansiedade ao afastar-se das suas figuras de referência, como por exemplo, chorar quando a mãe se afasta ou quando está na presença de uma pessoa estranha. No entanto, quando estamos na presença do transtorno de ansiedade de separação, estas vivências intensificam-se drasticamente e expressam-se em situações onde o afastamento não justifica a intensidade do comportamento ansioso. E porque razão isto acontece e a criança não consegue gerir de forma autónoma estes sentimentos?A origem do transtorno de ansiedade de separação é complexa. Diferentes estudos demonstram que tanto fatores biológicos (ex. genéticos, psicológicos, neurológicos), como ambientais (ex. relacionados com a família, experiências precoces, caraterísticas do temperamento da criança, relação com a escola) desempenham determinada influência:
No entanto, na maioria dos casos, a perturbação desenvolve-se após alguma situação de stress, tipicamente uma perda, a morte de um familiar ou de um animal de estimação, de uma doença da criança ou de um familiar, de uma alteração no ambiente da criança, como uma mudança de escola ou para uma nova casa. Em comparação com os adultos, as crianças pequenas revelam uma maior dificuldade em reconhecer os seus medos como exagerados ou irracionais. E de facto, a ansiedade nestas faixas etárias pode mesmo causar um grande sofrimento psíquico entre as crianças, justamente por não conseguirem expressar e entender os seus sentimentos, as suas emoções e as suas aflições. Da separação dos pais ao desenvolvimento da individualidade A consolidação do nosso self, exige a interiorização de objetos internos constantes e seguros, ou seja, a compreensão de que os objetos existem independentemente das nossas interações sensoriais ou motoras com eles. No caso dos pais, que a criança adquira a capacidade de perceber que os pais mesmo não estando lá fisicamente, continuam a existir. Esta capacidade desenvolve-se através de uma relação satisfatória com a mãe, que possibilite a construção de uma realidade que permita a progressiva diferenciação e autonomia em relação ao outro e à realidade externa. A separação da mãe é tanto mais tolerável quanto maior confiança esta tiver a capacidade de transmitir ao seu bebé, como por exemplo, pela partilha de momentos e experiências afetivas satisfatórias. Se isto não acontecer, porque a relação inicial foi insatisfatória, mantêm-se ativas angústias que revelam a insegurança e a fragilidade do self. A permanência da angústia de separação a partir dos 3 anos é sinal de que este processo de desenvolvimento não está a ocorrer com segurança no sentido da individualidade. Algumas características:
As crianças que sofrem com o transtorno de ansiedade de separação, anseiam por voltar para casa e fantasiam o reencontro com os seus familiares. Quando não se encontram na presença de alguém próximo de si, podem apresentar episódios de retraimento social, apatia, tristeza ou dificuldades de concentração. Reforço que estas sensações são manifestações de que a nossa mente pode estar perturbada, devendo-se, assim, procurar a origem e causas dos problemas que “estão invariavelmente ligadas às relações sociais e de vinculação”. Uma avaliação rigorosa da situação e a intervenção por um técnico especializado, permite que a criança comece a perceber melhor as suas sensações e emoções, sendo gradualmente cada vez mais capaz de geri-las de forma autónoma Estudos apontam que a presença de ansiedade de separação na infância é um fator de risco para o desenvolvimento de alguns transtornos de ansiedade na vida adultaPelo que quanto mais precocemente a situação for identificada e trabalhada, mais feliz será o seu filho e mais fácil será a transição para a vida adulta.
Artigo desenvolvido em parceria com
Learn2Be - Clínica de Psicologia e Coaching
0 Comments
Leave a Reply. |
AUTORA:
|