Num dia que se assinala o Dia Internacional do Brincar, (28 de Maio), não poderia, de forma alguma, deixar passar em branco esta data cada vez mais importante pelo facto dos adultos na nossa sociedade optarem, cada vez mais, por dar preferência ao sucesso académico, tendo como premissa a ideia de que brincar é uma perda de tempo. No entanto, é urgente libertarmo-nos dessa ideia, porque brincar é de facto benéfico para as crianças de muitas maneiras, proporcionando-lhes oportunidades para aprender sobre quem são, o que podem fazer e como se podem relacionar com o mundo que as rodeia. Brincar é tão essencial ao seu desenvolvimento como a alimentação e o afeto.Reforço que a principal tarefa de uma criança entre o 1º ano de vida e os 5 anos, antes da entrada da escola, deve ser o brincar. E reforço esta ideia pois desde cedo os pais querem que os seus filhos já saibam ler e escrever quando chegam à escola, mas o que estão a fazer com isto é roubar-lhes o tempo que eles têm para brincar. Enquanto brinca, a criança organiza a sua forma de pensar e sentir, aprende a comunicar os seus pensamentos, sentimentos e necessidades, mostra como vê a realidade, aprende a interagir com os outros. É, no fundo, uma forma de comunicação que ajuda a criança a aprender a resolver os seus conflitos e a lidar com as situações do dia-a-dia. Além disso, o brincar tem um papel fundamental no controlo da agressividade e na descoberta de novas formas de estar. Enquanto constroem batalhas com soldados, descarregam a fúria de alguma frustração, e aprendem a controlá-la. Acrescento que o envolvimento dos pais no brincar dos seus filhos é também extremamente importante, pois contribui para criar uma relação próxima e fortes laços afetivos entre os membros da família. O tão simples jogo do “faz-de-conta” é extremamente importante para as crianças pois servirão de treino para os encontros com a vida real, pois ao executar os gestos sociais que observa nos seus cuidadores, está a expandir-se e a adquirir a noção do certo e do errado. Para os pais, importa ter em atenção que as atividades só podem ser consideradas lúdicas na medida em que o controlo, a motivação e a realidade sejam, de algum modo, estabelecidos pela criança, ou seja, é importante que seja a criança a guiar a brincadeira, a escolher o que vai fazer e como o vai fazer, deixá-la dar seguimento ás suas próprias fantasias. E uma criança que brinque pouco, quais as consequências que enfrenta?Quando encontramos uma criança que não brinca, que não convive com as outras crianças quando estão juntos, então estamos perante uma criança inibida, que não se desenvolveu ao nível da socialização e do brincar, o pode acontecer por diversos motivos, como por exemplo pais que proíbem a criança de explorar pois preocupam-se demasiado, pais que punem a agitação motora natural na criança, em suma pais pouco disponíveis para brincar com os filhos. Falando nas consequências que enfrenta, uma criança que não brinca é uma criança que irá perder a sua capacidade e entusiasmo em conhecer as realidades que a rodeiam. É uma criança que se fecha à experiência e à descoberta, e, mais cedo ou mais tarde, será uma criança diminuída em relação aos colegas e com possíveis atrasos tanto ao nível cognitivo, emocional, como relacional. No fundo, uma criança que seja restringida ao nível do brincar, dificilmente irá resolver a tarefa básica da infância que é a sua capacidade de se desvincular de forma segura dos seus pais ou cuidadores, ou seja, de elaborar os sentimentos de perda e reencontro, o que consequentemente irá ter um grande impacto ao nível da sua adaptação a um contexto de creche ou jardim de infância. Quais as brincadeiras que estimulam mais as crianças cognitivamente? Cada idade tem um modo de brincar específico pois é em cada uma dessas fases que a criança aprende a diferenciar a realidade da fantasia. Por essa razão,os brinquedos são essenciais para o desenvolvimento das crianças, sendo que na hora da sua escolha os pais deverão ter em conta o seu valor ludo-pedagógico, o que não tem necessariamente de ser o mais caro, pois os brinquedos têm de divertir, de ser simples, procurando entusiasmar a criatividade, a abstração, o faz-de-conta, a representação da vida real atual e futura, e permitir a exploração estimulante e segura.
Qualquer que seja a brincadeira ou jogo, é importante perceber a sua influência no crescimento infantil, nomeadamente ao nível do desenvolvimento físico (muscular), raciocínio lógico, perceção sensorial, socialização, comunicação e criatividade. Cada vez mais as crianças preferem ficar em casa a brincar com um computador, telemóvel ou Tablet. Será mais recomendável brincar na rua? Brincar com os telemóveis também tem as suas vantagens? Na minha opinião profissional, considero que de facto se torna mais saudável brincar na rua mas é sobretudo mais saudável brincar com o outro, quer seja com os pais, com os irmãos ou com os pares. Ao longo do desenvolvimento, o papel dos pais deverá ser o de estimular a brincadeira na criança, mostrar-lhes que o jogo, o movimento, o desenho ou até a leitura, podem ser tão divertidos como um computador ou a televisão. O jogo e a brincadeira ao ar livre contribuem para o cansaço saudável que as crianças precisam para, depois de um banho e do jantar, estarem prontas a adormecer e dormirem um sono de qualidade. Além disso, permitem uma redução das tensões e do stress, aumentam a boa disposição e evitam a obesidade infantil. O ficar em casa a brincar com um computador, telemóvel ou tablet irá diminuir o tempo dedicado à prática do desporto e ás interações sociais, o que interfere com o desenvolvimento de amizades com outras crianças, bem como irá interferir no diálogo e na comunicação familiar pois cada vez mais podemos assistir a que cada um dos membros da família passa o seu serão cada um no seu telemóvel. Além disso, e mais preocupante, é o tipo de conteúdos de que estamos a falar, pois infelizmente a maior parte do tempo que as crianças passam em frente a um ecrã é para assistirem a programas desadequados às suas necessidades de desenvolvimento. São vários os estudos que demonstram que os programas de televisão e os jogos de computador violentos promovem o comportamento agressivo entre as crianças, que tendem a reproduzir e aprender novas formas de agressão quando as observam em personagens violentas na televisão e em jogos de computador. Mas como em tudo, o essencial é haver equilíbrio e não sermos fundamentalistas. Brincar com os telemóveis também tem as suas vantagens, desde que a sua utilização seja moderada e a seleção do tipo de programas for adequada à idade da criança. O acesso a este tipo de tecnologias permite promover algumas competências ao nível da inteligência visual, tais como a capacidade de ler e reconhecer imagens, mas essencialmente dar a possibilidade de assistir a um mundo de acontecimentos e ideias que de outro modo podiam não estar acessíveis: estamos a falar de concertos, espetáculos como o teatro e outros eventos artísticos; podem conhecer vários países e cidades e os seus monumentos; podem observar como os outros resolvem os seus problemas pessoais e lidam com questões difíceis e sobretudo que existem muitas realidades diferentes das suas (por exemplo, a pobreza, a velhice). De uma forma geral, os jogos de computador e os programas de televisão podem proporcionar importantes experiências de aprendizagem para as crianças. O importante é mesmo controlar o que os seus filhos veem e quanto tempo estão em frente ao ecrã. Ajudá-los os a encontrar um equilíbrio entre essas atividades e as outras, que envolvam interação social e formação de amizades, o desporto e a leitura. Se tem dificuldades em gerir o tempo que o seu filho passa em frente a um ecrã, se considera que esse tempo está a interferir com a vossa qualidade de vida, nomeadamente ao nível ao sono, rendimento escolar e relações familiares, não hesite em procurar ajuda. Juntos, vamos conseguir encontrar o caminho! Entrevista cedida por Sara Loios, Psicóloga Clínica e Familiar no Learn2be Lisboa e Almada, para a Rádio Renascença, 28 de Maio de 2019
Artigo desenvolvido em parceria com
Learn2Be - Clínica de Psicologia e Coaching
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